quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Foi a primeira vez que eu chorei na terapia. Na terceira sessão. Quando ela me perguntou como você faz eu me sentir, eu disse que bem, feliz. E até aí tudo bem, eu estava tranquilo.
Então ela me perguntou o que eu faço por você. Eu respondi que talvez não seja tanto, que talvez não seja o suficiente, mas que é o que eu tenho para dar agora. E ali comecei a chorar.
É horrível sentir que talvez o que você faça não seja suficiente, mas sem se sentir capaz de fazer simplesmente em virtude das escolhas que fez para a vida. É horrível pensar que entre uma festa que te deixaria muito feliz e o meu descanso, talvez eu escolha o meu descanso, sendo que eu sempre escolhi qualquer coisa que fosse te fazer feliz.
É horrível pensar que eu tenho um milhão de razões para ser feliz e ainda assim eu consigo achar motivos para ficar triste, não consigo entender essa minha aparente necessidade de sofrer, de pautar minha vida em situações outras, como quando na adolescência eu terminava namoricos simplesmente por ouvir uma música sobre fim de relacionamento.
Eu já li que um dia todos nós aprenderemos que existe muito mais dos nossos pais na gente do que nós podemos supor. Para mim é horrível pensar que talvez eu possa ser como meu pai, e que um dia eu possa fazer mal a alguém como ele fez para minha mãe.
Acho que eu só queria fugir por um tempo, viver uns dois meses de Gramado, sem me preocupar com estudos, sem me preocupar com trabalho, sem me preocupar com nada além de sorrir e de te fazer sorrir.
Talvez seja difícil eu admitir que sinto falta de ter como única preocupação, como única meta, te fazer sorrir, e não X páginas de determinado livro, ou X processos na semana, porque, se eu parar para pensar, as minhas metas mudaram por escolha minha. Mas, como eu já disse mais de uma vez, eu não quero mudar isso agora, porque eu marquei um objetivo para mim e me sinto  em obrigação comigo mesmo de alcançá-lo, porque eu sei que tenho reais condições de chegar lá.
Eu não me imagino em outra situação, eu não me imagino perdendo tudo que conquistamos nestes 5 anos, eu não me imagino desmontando seu guarda-roupa, e não imagino você saindo com uma mala para não mais voltar. E, na verdade, pensar nisso me deixa muito mal.
E eu já te falei também que sinceramente acredito que um dia você vai acordar e pereceber que você merece muito mais do que eu estou oferecendo, muito mais do que eu estou te dando, tudo aquilo que um dia eu já fui capaz de dar. Mas  chega a ser paradoxal como, apesar de tudo isso, amanhã eu vou acordar no mesmo horário e estudar da mesma forma, sem fazer grandes mudanças para não te perder.
Você é minha melhor amiga, meu anjinho bom, quem sempre me cuidou nos meus piores momentos, quem sempre esteve comigo mesmo quando nem eu queria estar.
Ela também me perguntou se eu acreditava em ser feliz em um relacionamento, em casamento e coisas assim. E eu falei que sim, que eu quero casar, não na igreja, mas talvez na praia, só com os amigos mais íntimos. E me veio a imagem de areias claras, de você no seu vestido azul, com o vento batendo no seu cabelo, como naquela foto que você gosta tanto, uma coroa de flores na cabeça (tipo o filtro do snap). E naquele momento sorri, com os olhos lacrimejando, por pensar que aquele sonho ainda existe, que a imagem permanece viva na minha cabeça. Apesar de, nesse exato momento, eu estar lacrimejando pensando na possibilidade de isso nunca ocorrer, é simplesmente porque eu não consegui te dar tudo que você precisa, porque existe mais Miguel em mim do que eu pensava que existisse.
Eu não sei o que fazer, eu não sei o que vai acontecer, eu só quero que você saiba que eu te amo, que estar contigo me faz feliz, que você é uma pessoa maravilhosa e merece ser tão feliz quanto me faz, e que eu me sinto mal por talvez não conseguir te fazer chegar nesse patamar.
Eu sinto falta de ser "eu", mas espero que você entenda minha escolha de, nesse momento, não ser de todo daquele modo, porque seria horrível perder tudo o que temos.
Eu te amo muito ❤️